segunda-feira, 1 de junho de 2009

ESCRITORA INTERROMPIDA


As vezes conto aqui Histórias pitorescas sobre assuntos diversos.

Não fugirei a regra hoje.

Conheço uma moça linda, destas de parar o trânsito.

Como se a beleza não bastasse, Deus Nosso Senhor a agraciou com uma inteligência aguçada e brilhante.

Aos catorze anos nossa heroína iniciou a sua carreira literária escrevendo contos, contos estes que embalavam os sonhos de suas irmãs, assíduas e entusiasmadas leitoras, fãs e incentivadoras do estilo descritivo da neo escritora em questão.

A produção profícua se extendia celeremente até que esbarrou em um obstáculo intransponível:
A Mãe.

Freud culpava as mães por todas as mazelas sofridas pelos filhos na fase adulta.

E este foi o caso.

Certo dia fazendo a lida doméstica, a genitora esbarrou em uma folha de papel escrita jogada ao chão do quarto da nossa autora.

Pensou, naturalmente, que se tratasse do todo ou de parte de algum trabalho escolar que por ali estivesse por mero descuido.

Ainda empunhando a vassoura, abaixou-se, recolheu a peça literária e... leu.

Imediatamente seus olhos começaram a arregalar-se. Um arrepio perpassou-lhe o corpo fazendo com que as pernas parecessem gelatina. Um suor frio porejou-lhe a testa e as mãos tremeram como se estivessem atacadas de Parkinson.

Não podia conceber que sua filhinha houvesse descrito atos tão obcenos.

Dois corpos rolando em um movimento frenético, mãos e pernas entrelaçadas, ora com violência, ora com suavidade e sutileza. Rostos colados, suor, muito suor, um corpo sobre o outro, revezando-se de vez enquando nesta posição, gritos, gemidos, suspiros...

A mãe não podia acreditar que tudo aquilo houvesse saído da cabecinha pura da sua filhinha primogênita.

Acendeu-se a fogueira da inquisição.

Lá foram parar todos os textos árduamente produzidos pela autora em botão. E com eles foi a carreira promissora da nossa heroína.

Até hoje ela jura com a mão sobre a Bíblia que aquele texto fatídico era apenas a descrição pura e simples de um treino de jiu jitsu.

Eu acredito piamente.


Voltaremos